segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Araribóia


Índio Araribóia 


Araribóia (em tupi, “cobra feroz” ou “cobra da tempestade”) nascido em 1524, foi o chefe da tribo dos Temiminós, do grupo indígena tupi, em meados do século XVI. O seu domínio era a Ilha de Paranapuã (hoje Ilha do Governador), na cidade do Rio de Janeiro. A tribo vivia às margens da Baía de Guanabara, e ali conseguiam se defender dos ataques das tribos inimigas, entre elas a tribo dos Tamoios os quais já eram adversários antigos. Esteve no Espírito Santo, acompanhando seus pais e sua tribo no período de 1554 até 1564. Residiu na região de Santa Cruz e posteriormente em 1562, fundou a Aldeia de São João em Carapina. Ele era filho do chefe Temiminó Maracajáguaçu (Gato Bravo Grande).


A tribo dos Tamoios, em 1555, ajudou os franceses a dominar os portugueses, os Temiminós e toda a Capitania do Rio de Janeiro. Tendo perdido as suas terras, a tribo Temiminó seguiu para a então Capitania do Espírito Santo, onde reorganizaram a sua aldeia, foram catequizados pelos jesuítas e ajudaram os portugueses a expulsar invasores holandeses.

Quando a Coroa de Portugal enviou ao Brasil o seu terceiro governador-geral, Mem de Sá, com um contingente de soldados bem armados para retomar a Baía de Guanabara aos franceses. Os portugueses estabeleceram aliança com Araribóia, que havia sucedido a seu pai como líder dos Temiminós, conseguindo, desse modo, reforçar os seus efetivos em cerca de 8000 indígenas conhecedores do território e inimigos tradicionais dos Tamoios. Araribóia se aliou aos portugueses como forma de adquirir proteção e liberdade a sua tribo, sendo assim os Temiminós estariam livres da escravidão e do extermínio colonial. Na costa capixaba, os Temiminós ajudaram os portugueses contra outras tribos inimigas e piratas que tentavam saquear o território da colônia. Além de manterem a aliança com os portugueses, para os Temiminós a volta para o Rio de Janeiro era uma oportunidade que tinham de combater seus antigos inimigos, os tamoios, reconquistando o território que haviam abandonado.

A esquadra francesa se instalara na Baía de Guanabara em 1556, ocupando a Ilha de Serigipe e, ali, erguendo um forte, o Forte Coligny. Para se contrapor às forças portuguesas, o comandante dos invasores, Nicolas Durand de Villegagnon, firmou uma aliança com os índios Tamoios, a mais populosa, com cerca de 70 000 homens liderados por Cunhambebe, cujo objetivo era fundar a França-Antártida. O acordo permitiu que as forças enviadas de Salvador por Mem de Sá, governador-geral do Brasil, não conseguissem uma vitória definitiva contra os franceses. Com a unidade da colônia correndo perigo, Mem de Sá mandou vir do reino seu sobrinho Estácio de Sá e o incumbiu de adotar a mesma estratégia dos franceses: arregimentar apoio indígena.

O confronto mais violento ocorreu em Uruçumirim em 1564 na atual Praia do Flamengo, onde os franceses e Tamoios estavam aquartelados. Galgando penhascos, Araribóia, já com 40 anos de idade foi o primeiro a entrar no baluarte inimigo. Empunhava uma tocha, com a qual explodiu o paiol de pólvora e abriu caminho para o ataque. Durante a luta, uma flecha envenenada raspou o rosto de Estácio de Sá, que morreu posteriormente, vítima de infecção. Ao ataque, seguiu-se uma matança noturna, da qual as forças portuguesas e temiminós saíram vitoriosas.

Em episódio com contornos de lenda, Araribóia teria atravessado as águas da baía a nado para liderar o assalto ao Forte Coligny e incendiar o depósito de pólvora da fortaleza que os franceses ali haviam construído em 1556, logo em seguida à tomada da ilha na baía de Guanabara.

Após a vitória sobre os franceses e Tamoios na guerra de 1564, no Rio de Janeiro, e depois de  se destacar como herói na batalha de Paranapecu, trecho da Ilha do Governador, que ia da ponta do Galeão até as Flecheiras, Araribóia pretendia voltar ao Espírito Santo para sua aldeia onde deixara mulher e filhos. Mem de Sá, contudo pediu-lhe para ficar no Rio, pois poderiam ocorrer novas guerras e os portugueses precisavam dos índios Temiminós. Araribóia e sua família transferem-se então definitivamente para o Rio de Janeiro.

O fato é que, com o seu apoio, a operação portuguesa contra os franceses foi coroada por sucessos, dentre eles o controle sobre a Baía de Guanabara. A partir daí, a cidade do Rio de Janeiro, que, entrementes, havia sido fundada por Estácio de Sá em 1565 no sopé do Morro Cara de Cão, teve assegurada sua sobrevivência.

Depois de várias lutas, em 1565, os portugueses e a tribo Temiminó expulsaram os franceses do Rio de Janeiro e venceram a tribo dos Tamoios. Como recompensa pelos seus feitos, Araribóia recebeu da Coroa Portuguesa primeiramente um terreno no atual bairro de São Cristóvão, que fica próximo à Ilha do Governador. Em 1565, com a expulsão dos franceses, deu-se a fundação da cidade do Rio de Janeiro e o papel de Araribóia na conquista foi devidamente reconhecido. Três anos depois, foi-lhe dado o direito de escolher uma parte das terras da “banda d’além”, ou seja, do outro lado da Baía, onde teria a missão de proteger o outro lado da entrada da Baía de Guanabara e estabelecer sua nova tribo. Tal sesmaria recebeu o nome de São Lourenço dos Índios, a qual foi o início da atual cidade de Niterói (termo que, traduzido da língua tupi, quer dizer "água escondida") estado do Rio de Janeiro, criada em 22 de novembro de 1573, tomou posse, ocupando a região de São Lourenço e Caraí (Icaraí). A aldeia dos Temiminós de Araribóia, extinta em 26 de janeiro de 1866, deu origem à cidade de Niterói. Esse era o nome foi dado pelos índios devido à entrada da Baía de Guanabara, pois para eles as águas do mar parecem se “esconder”. A região entregue a Araribóia desenvolveu-se rapidamente. Em 10 de maio de 1819 foi elevada a vila. Em 1834 foi à vila real da Praia Grande escolhida para servir de sede à assembléia legislativa provincial, tornando-se então capital da província do Rio de Janeiro, em 1835. No ano seguinte foi-lhe conferido o título de cidade com o nome de Niterói. Os portugueses tinham o hábito de valorizar os líderes nativos que os apoiavam. Os chefes indígenas recebiam concessão de favores, títulos, patentes militares e nomes portugueses de prestígio. Converteu-se ao cristianismo e adotou o nome de Martim Afonso de Sousa, em homenagem ao homônimo navegador português, recebeu o Hábito de Cavaleiro da Ordem de Cristo e foi beneficiado com uma tença (pensão) de 12 mil reis, tornou-se capitão-mor da aldeia de São Lourenço e tornou-se proprietário de casas na Rua Direita (atual 1° de Março), onde residiam notáveis personalidades da época no Rio de Janeiro, incluindo o governador. Seu casamento foi realizado com grande pompa, digna dos altos mandatários do Reino.

Em 1568, Araribóia repele o ataque à Aldeia, localizada então, no Saco de São Diego, em São Cristóvão. Araribóia está com o governador da capitania do Rio de Janeiro, Salvador Correira de Sá, quando ataca e extermina os franceses em Cabo Frio, tendo salvado a vida do Governador, que, na luta, ia morrendo afogado. Araribóia tornou-se o primeiro carioca com serviços prestados à Coroa Portuguesa. Por ter salvado o Governador e ter praticados outros atos heróicos, foi agraciado pelo rei de Portugal, Dom Sebastião que o honrou, ainda, com um traje completo de seu uso pessoal, numa demonstração de apreço, raras vezes concedida pelo Rei.

Terminou os seus dias em conflito com o novo governador-geral da Repartição Sul do Estado do Brasil (com sede no Rio de Janeiro), Antônio Salema (1575-1577). Na cerimônia oficial de posse, tendo Araribóia se deslocado de Niterói até ao Rio de Janeiro, sentou-se à moda indígena (com o tronco sobre as pernas cruzadas). O fato veio a desagradar o governador, que o repreendeu. Araribóia rebateu tal repreensão retrucando: Minhas pernas estão cansadas de tanto lutar pelo seu Rei, por isto eu as cruzo ao sentar-me, se assim o incomodo, não mais virei aqui!

O idoso cacique voltou para a sesmaria de Niterói, não mais tendo retornado ao Rio de Janeiro. Antes de falecer, Araribóia teve esposas e filhos, e seu cargo de capitão-mor foi herdado pelos seus descendentes. No século XIX, as aldeias indígenas de Niterói foram extintas e os índios incluídos na cidade como cidadãos.

É considerado o fundador da cidade de Niterói e uma estátua sua, erguida em 1965, pode ser vista em uma praça homônima no centro da cidade, fronteira à estação das barcas, com os olhos voltados para a Baía de Guanabara e protegendo a cidade de Niterói às suas costas. A antiga sede da prefeitura municipal tem o nome de Palácio Araribóia em sua homenagem.

A morte de Araribóia em 1587 é um assunto controverso. O fato é que seu prestígio sobreviveu, estendendo-se às gerações posteriores.


Estátua de Araribóia

A Estátua de Araribóia é um monumento em memória do cacique, fundador da cidade de Niterói, única cidade brasileira fundada por um índio. O monumento está localizado na Praça de mesmo nome, no Centro de Niterói, em frente à Rua da Conceição.

Foi inaugurado em comemoração aos 400 anos da cidade e substituí o busto de bronze do cacique, que ficava no mesmo local.

A estátua de corpo inteiro tem a frente voltada para a estação das barcas da Praça Araribóia e para a cidade do Rio de Janeiro e apresenta Araribóia seminu, em trajes típicos, com uma expressão de rosto fechada e seus braços cruzados.

Diz a tradição, e a interpretação corrente, que Araribóia estaria em posição de vigilância, para proteger a cidade de invasores vindos do mar e do outro lado da Baía de Guanabara.